Som do dia

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ser músico em Portugal I...

  O ABC da Música

 Se digitarmos no motor de busca do Google "ser músico em Portugal",  deparamo-nos essencialmente com links referentes, na sua maioria, a:

         - pessoas em particular - biografias de músicos, experiências pessoais;
         - artigos sobre o ensino da música e como estudar música no nosso país;
         - história da música em Portugal no séc. XX;
         - sites de agenciamento de artistas portugueses;
         - fóruns - com pouca expressão- de discussão sobre gostos musicais e o estado da música em Portugal.

     Apercebi-me que no espaço cibernético é muito difícil encontrar na nossa língua escritos, estudos, artigos, entrevistas, sobre a condição de músico profissional no nosso país...
     Aliás, a quase total inexistência de documentação importante e  interessante - EM PORTUGUÊS de Portugal  -  sobre as áreas artísticas parece ser apanágio deste nosso condado...

    Da Wikipedia- a enciclopédia livre,  que os nossos irmãos do outro lado do Atlântico tomam, possivelmente, como referência, retirei a seguinte definição:
   

   " Adota-se o termo músico quando nos referimos a qualquer pessoa ligada diretamente à música, em caráter profissional, exercendo alguma função no campo de música, como:

   - tocar um instrumento musical, cantar;
   - compôr músicas/canções;
   - escrever arranjos,
   - reger, dirigir um qualquer grupo de músicos - orquestras, bandas, big bands, ensembles vocais ou instrumentais;
   -  leccionar,ou trabalhar no campo de educação ou terapia musical.
  
     Um músico brasileiro pode ter,  ou não, uma carteira profissional de alguma instituição que o reconheça, como a Ordem dos Músicos do Brasil.
     Um músico também pode ou não ter a formação académico-técnica reconhecida (através de escolas de música, conservatórios, faculdades ou universidades).
     Quando ele adquiriu competências e capacidades musicais por sua auto-recriação, diz-se que é um músico autodidata.
     Quando ele não tem formação alguma, costuma-se dizer que é um músico popular, amador ou ainda que produz música de ouvido."  
                                                      

      Desta descrição destaco a separação (quanto a mim até bastante elucidativa) das diversas actividades de um músico, que de certa forma representam a realidade e as verdadeiras possibilidades de acção nesta área.
   
       Amigos, mães preocupadas, jovens indecisos, confessem:
      Vocês não faziam a mínima ideia das diferentes possibilidades - as tais saídas profissionais- na área da música, certo ?! ...
      Alguém - até mesmo algum músico - já investiu o seu tempo (em Português diz-se já perdeu tempo=já se deu ao trabalho...   ...)  a tentar explicar-vos, pelo menos de uma forma razoável,  o que é ser músico?

       " - Uauuu!  Tanta coisa que um músico faz/pode fazer!...Não tinha ideia! Más é difícil ser-se músico, não é? Ou tens um projecto, uma banda que consiga vingar ou és músico de orquestra, ou então vais para professor de música... É difícil..."

           Imagino que seja  esta a tendência habitual nas já típicas conversas sobre "- então e tu, o que é que fazes?"...

      No entanto, o real problema , como nos iremos aperceber, ou, pelo menos que eu tentarei pôr em cima da mesa (gosto desta expressão...) não é a simples escolha pela actividade musical, mas um conjunto de circunstâncias inerentes ao facto de vivermos num país onde a grande maioria dos índivíduos ( felizmente, aos poucos vou encontrando a malta porreira que faz parte da percentagem mais pequena!...)-  ainda detém uma visão muito geral, muito básica e  muito primária - nalguns pontos por vezes atrasada - sobre o que é ser músico, fazer música, objectivos musicais, formas de estar na música, etc...
    Ou seja, a palavra défice volta a entrar no vocabulário...

    Que sina esta, de termos de conviver com esta palavra ...

    E parece que está presente em muitas áreas...

      Mas no caso da Música, o défice de entendimento estende-se mesmo a todos os quadrantes  que constituem  a estrutura de tudo o que diz respeito à actividade musical, e que vão desde o público, passando por agentes, produtores musicais, produtores de eventos,  meios de comunicação e - o mais gritante e por isso o mais importante - os próprios músicos ...

    Se me fosse pedido para criar um conceito para esta questão , eu diria que o problema em Portugal está no ABC da Música !
  
    Passo a explicar :
   
     A-   público - o lusitano, que é aquele com que eu e a maioria dos leitores (músicos ou não )  lidamos quase sempre, e que, por isso, conhecemos melhor - julgo que é por demais perceptível o ...défice de entendimento da música.
    Não da forma empírica e técnica (essa deve pertencer obviamente aos músicos, embora esteja livremente acessível a quem quiser)  mas de uma forma cultural e social.
    É o que está patente no no "ouvir, escolher, reagir e procurar "...  um quarteto de respeito que devia merecer maior atenção: o que é que eu oiço, o que é que escolho ouvir, como é que eu reajo, e será que procuro ?...
    Basta ligar todos os dias a televisão e percorrer os principais canais generalistas ( em luso-inglês diz-se fazer zapping...) para nos apercebermos do que se vai instalando nas cabeças e nos olhos do público tuga...

     B - a maralha que eu coloco no meio da tal estrutura - produtores de eventos, agentes, meios de comunicação - cujo o entendimento da música , por sua vez, é muitas vezes virado até para outros valores (...) que saem um pouco fora da esfera de intuito cultural e social que deve alimentar a existência da música.
     Qual a importãncia de referir défices também nesta área?
     É que aparentemente estes sectores - agenciamento, produção de eventos e meios de comunicação - apenas seguem uma permissa muito simples, tipo físico-química "acção-reacção":  "oferecemos, mostramos e divulgamos aquilo que se faz e que supostamente se quer ouvir. "
    Assim á partida estão apenas a cumprir a sua função elementar e para a qual foram destinados.
     Pois... 
        
     C-  Por outro lado, no que se refere aos próprios músicos, aproveitando a definição da wikipédia, mantenho a convicção forte de que existe então também um défice assinalável no entendimento das diferentes actividades musicais:  tocar*, compôr, escrever, reger e leccionar...
        Há quem esteja convicto de que esta minha convicção é uma heresia, uma blasfémia ...
        Pois não me importo mesmo nada de ser condenado à fogueira.
        Galileus e Copérnicos não são novidade...
  

   *Tocar  -  neste particular abro uma excepção quanto à questão do défice,  porque temos um país de excelentes músicos-executantes. E são cada vez mais!
     Que se diga convictamente . Porque se diz com toda a justiça !  
    Contudo, julgo não estar a criar um novo termo ou conceito na música quando escrevo "músicos-executantes"...
     E se estiver, então mais á frente no tempo poderei explanar esta ideia ...
     Estarei a querer implementar uma distinção?...
    Uma pista :  os ingleses e os americanos têm os termos  "player" e "musician", e usam-nos em circunstâncias, situações e momentos distintos...
     Pois é...  lá é assim...
       
        A ordem aqui expressa é completamente aleatória, e não seguiu qualquer critério ou atribuição de importância aos 3 parâmetros.
        Porque será mais ou menos entendível que esta questão constitui uma verdadeira pescadinha de rabo na boca.
       
      
        É sobre este  ABC da Música que me debruçarei nos próximos posts.